Nota Pastoral do Bispo de Aveiro sobre as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) |
1.O mês de Junho é para as escolas e para quantos nelas estudam e ensinam o mês de avaliação do ano lectivo que termina e o mês de matrículas em ordem ao novo ano que vai começar. É o mês de exames de avaliação para aferir o passado e o mês de projectos educativos para desenhar o futuro. Devia, por isso mesmo, ser mês de festa e de alegria, de gratidão e de esperança. O que se vive e celebra nas escolas reflecte-se nas famílias e nas comunidades. A escola não é indiferente ou marginal a nada nem a ninguém na comunidade em que está inserida. O que ali se ensina e aprende, realiza e acontece, define e decide o rumo da sociedade que queremos ser. Um exame não avalia apenas o aluno e o professor. O seu resultado não lhes pertence em exclusivo. É êxito ou fracasso de todos nós. Uma avaliação feita na escola é, também, oportunidade de aferição de critérios educativos e de valores vividos em casa e na terra e uma matrícula aí realizada é sempre portadora de um projecto de futuro para a família e para a comunidade. 2.Na escola, semeia-se, constrói-se, ensina-se, educa-se e sonha-se. E isso é acção permanente. É trabalho de todos os dias do ano lectivo. A escola é casa de janelas abertas ao futuro. O hoje da escola é sempre vigília do amanhã. É que, educar é ver mais longe. É olhar para lá do óbvio, do efémero e do tempo presente. Na escola, o tempo não passa. Muitas vezes cansa e desgasta. Mas também encanta e deslumbra. A escola faz crescer e sonhar. E por isso, aí se educam os alunos e se perpetuam os mestres. Por isso, cada novo ano lectivo é para a escola sempre o primeiro. Aquele em que tudo se investe e em que todos trabalham, como se fosse o único. O trabalho na escola não vale apenas por si. O trabalho pedagógico desenha, com um misto de arte, saber e paciência, traços da alma em cada um dos alunos. É sempre trabalho fecundo. O trabalho educativo não é prisioneiro de cálculos, nem se encerra nas grades do tempo. Educar é, de certo modo, semear para a eternidade. Na escola, não se produzem coisas. Nem nascem aí os sábios. Formam-se pessoas, em aturado e cativante trabalho de atenção dada à alma que habita em cada um dos alunos. Dada a complexidade da missão e a grandeza do desafio de educar, ninguém se pode dispensar de trabalhar nesta causa. A educação é leme que nos guia neste sulcar de oceanos imensos de um contínuo «aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver em relação com os outros”, como nos propõem os objectivos pensados para a educação na Europa. É neste compromisso comum que todos nos sentimos implicados e envolvidos: alunos, pais, encarregados de educação, professores, funcionários e membros da comunidade. É com todos nós que a escola se faz. 3.Deste olhar realista e abrangente para a escola e para a missão de educar nasce o dever e o direito, legalmente afirmado e respeitado, da presença e da acção da Educação Moral e Religiosa na escola. A Igreja, no que à Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) diz respeito, assume esta missão com sentimentos de alegria e sentido de responsabilidade, consciente de que aí, fiel ao anúncio do Evangelho, pode e deve realizar um belo e necessário serviço a toda a comunidade humana. Estamos presentes e disponíveis para trabalhar com aqueles que, por sua opção livre ou por escolha decidida dos seus pais, procuram nas aulas de EMRC um espaço e uma oportunidade de aprofundar saberes, delinear critérios de vida, afirmar a fé cristã e encontrar valores que alicercem e consolidem o seu caminhar rumo ao futuro. A presença da EMRC na escola, desde o 1.o Ciclo até ao termo do Secundário, transporta em si um permanente e interventivo empenhamento por parte dos alunos e professores desta disciplina no projecto educativo da escola e na abertura à comunidade educativa alargada, com quanto isso supõe e exige de competência profissional, disponibilidade de tempo, compromisso de acção e testemunho de vida. Os alunos e os professores de EMRC não estão sós nesta missão. Está com eles toda a Igreja, que deste modo se compromete e empenha. São muitos, também, aqueles alunos que sem uma opção clara de fé ou porventura mesmo distanciados de qualquer crença religiosa procuram nas aulas de EMRC um espaço de diálogo e de abertura ao confronto de ideias e à afirmação dos valores éticos de um sadio humanismo. Trazem consigo, aliada a uma natural e espontânea curiosidade de saber, a seriedade de quem lucidamente procura a verdade e nesta procura muitas vezes encontra Deus e sente a Sua discreta e actuante presença. Pertence à comunidade no seu todo e concretamente às famílias cristãs sensibilizar os alunos para o valor e para importância da matrícula em EMRC, que sendo uma disciplina de opção exige e supõe a afirmação expressa da vontade de nela se inscrever. Sei quanto esta presença na escola é exigente e simultaneamente difícil e gratificante para cada um dos alunos e professores. Mas sei, igualmente, que a EMRC constitui um bem para os alunos, para os professores, para a escola, para as famílias e para a comunidade. Esta reflexão é, por isso também, palavra de gratidão dita a todos quantos trabalham nas nossas escolas e em tantas outras frentes de serviço, na família e na comunidade, em prol de uma educação integral das crianças e dos jovens de hoje. O futuro das pessoas e o rumo das sociedades decidem-se, muitas vezes, em pequenos gestos e dependem de humildes e discretas decisões de quem sabe que educar é ver mais longe, para, em cada dia que passa, formar pessoas felizes, preparar um amanhã diferente e construir um mundo melhor. Aveiro, 15 de Junho de 2011 +António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro |
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
Educar é ver mais longe
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